Resolvi publicar novamente o texto relacionado ao carnaval de 2011. Mesmo porque, não houve grandes mudanças no cenário geral.
A única coisa que me chamou atenção neste carnaval 2011,
tirando o tombo da Ana Hickmann, foi o início da apuração do Rio de Janeiro quando
foram anunciadas as multas às escolas de samba. Fiquei incomodado em relação
aos valores; duas multas de 45 mil, uma para o Salgueiro e outra para a
Mangueira, e uma de 100 mil para a Portela. Salgueiro e Mangueira tiveram
problemas na concentração, enquanto a Portela ultrapassou o tempo limite de
desfile em 1 minuto.
(Lembrando que a
Portela não disputou o carnaval devido ao incêndio na “Cidade do Samba”)
Parecia-me
algo um tanto inexplicável, este valor absurdo por apenas 1 minuto de atraso e
acabei sentindo pena da escola. Ao conversar com amigos e conhecidos, percebi que
ninguém sabia explicar para onde ia o dinheiro, o porquê daquele valor, quem
era responsável pela multa, etc. Então, para desencargo de consciência,
procurei entender melhor o funcionamento e a organização do carnaval.
O
carnaval carioca é organizado pela LIESA (Liga Independente das Escolas de
Samba do Rio de Janeiro) em parceria com a Riotur, que é um órgão da Secretaria
de Turismo da cidade. A Riotur cuida do
funcionamento do desfile enquanto a LIESA se encarrega da parte administrativa
e da direção artística.
A LIESA
se assemelha ao “Clube dos 13” do carnaval. É uma associação das escolas da
divisão especial para a organização e gerenciamento do evento na Sapucaí. Por
cima, ela arrecada, paga os gastos e repassa os lucros às escolas de Samba. Até
ano passado a prefeitura concedia à LIESA um adiantamento relativo ao valor das
bilheterias (algo em torno de 5 milhões de reais) e ainda pagava uma subvenção
às escolas.
Este ano o Ministério Público
exigiu mudanças. O adiantamento e a subvenção não ocorrem mais. Porém, o
sambódromo é cedido gratuitamente para o evento e as escolas de samba foram
contratadas pela prefeitura para realizarem pequenas apresentações pelo preço
simbólico de 1 milhão reais para cada uma. O presidente da Unidos da Tijuca,
Fernando Horta, disse que as escolas acabam tendo um gasto de cerca de 250 mil
reais com tais apresentações pela prefeitura. O resto... sobra! Parece, mas só
parece, uma ajuda de custo mascarada.
Muitos poderiam argumentar que é
legítimo o investimento da prefeitura no carnaval, uma vez que ele é um
fomentador do turismo na cidade. É verdade, mas é como acreditar que a alegria
de sediar uma Copa, vale uma reforma de 1 bilhão no Maracanã. O problema é
quando encaramos a realidade.
O Ministério Público investiga a
LIESA desde 1998. O Governo chegou a fazer uma licitação para trocar de mãos a
responsabilidade de organizar o carnaval carioca. Não houve nenhuma empresa
interessada. Uma indagação: se o carnaval envolve tanta grana, gera tanto
lucro, porque nenhuma empresa quer se responsabilizar por ele.
Em 2007, na Operação Hurricane, feita
pela Policia Federal contra a corrupção no poder Judiciário do Rio de Janeiro, a
relação do “carnaval organizado” e os bicheiros foi escancarada. O então
presidente da LIESA, Ailton Guimarães Jorge, foi preso juntamente com o
presidente de honra da Beija-Flor, Aniz Abrahão David. Na casa do sobrinho do
Capitão Guimarães foi encontrada uma fortuna de 9 milhões de reais escondida em
uma parede falsa.
Além da relação com o jogo do
bicho; pipocaram outras acusações contra Aniz, como a de contratar um
pistoleiro para ameaçar os jurados em prol de benefícios a Beija-Flor,
pagamentos de propina, etc. Talvez isso ajude a explicar porque nenhuma empresa
se candidatou à licitação para assumir a organização do desfile.
Este ano, a Polícia Civil e a
Federal “devolveram” a LIESA um camarote que utilizavam de maneira gratuita no
carnaval. A desistência do presente se dá algumas semanas após dezenas de
policiais civis e federais terem sido presos durante a Operação Guilhotina. As
investigações constataram, no meio de tantas outras atividades criminosas, a
proteção por parte da polícia aos bicheiros.
Além de muito dinheiro,
proveniente de bilheterias, camarotes, impostos (que nós pagamos e a prefeitura
investe) e atividades ilegais, o “carnaval organizado” ainda conta com as
negociações de direitos transmissivos, patrocínios e por aí vai.
Voltando às multas que motivaram
este texto, diante de tanta grana rolando, agora me parecem insignificantes. As
multas de 45 mil estavam previstas no regulamento, já a de 100 mil deve ter
sido fruto de algum outro acerto, contrato, adendo, parágrafo ou o que quer que
seja. A verdade é que já não sinto pena da Portela ou escola nenhuma, sinto
pena de quem trabalha e chora por elas.
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