segunda-feira, 23 de abril de 2012

Pra Falar de Carnaval

Resolvi publicar novamente o texto relacionado ao carnaval de 2011. Mesmo porque, não houve grandes mudanças no cenário geral.


A única coisa que me chamou atenção neste carnaval 2011, tirando o tombo da Ana Hickmann, foi o início da apuração do Rio de Janeiro quando foram anunciadas as multas às escolas de samba. Fiquei incomodado em relação aos valores; duas multas de 45 mil, uma para o Salgueiro e outra para a Mangueira, e uma de 100 mil para a Portela. Salgueiro e Mangueira tiveram problemas na concentração, enquanto a Portela ultrapassou o tempo limite de desfile em 1 minuto.

(Lembrando que a Portela não disputou o carnaval devido ao incêndio na “Cidade do Samba”)

Parecia-me algo um tanto inexplicável, este valor absurdo por apenas 1 minuto de atraso e acabei sentindo pena da escola. Ao conversar com amigos e conhecidos, percebi que ninguém sabia explicar para onde ia o dinheiro, o porquê daquele valor, quem era responsável pela multa, etc. Então, para desencargo de consciência, procurei entender melhor o funcionamento e a organização do carnaval.

O carnaval carioca é organizado pela LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) em parceria com a Riotur, que é um órgão da Secretaria de Turismo da cidade.  A Riotur cuida do funcionamento do desfile enquanto a LIESA se encarrega da parte administrativa e da direção artística.

A LIESA se assemelha ao “Clube dos 13” do carnaval. É uma associação das escolas da divisão especial para a organização e gerenciamento do evento na Sapucaí. Por cima, ela arrecada, paga os gastos e repassa os lucros às escolas de Samba. Até ano passado a prefeitura concedia à LIESA um adiantamento relativo ao valor das bilheterias (algo em torno de 5 milhões de reais) e ainda pagava uma subvenção às escolas.

Este ano o Ministério Público exigiu mudanças. O adiantamento e a subvenção não ocorrem mais. Porém, o sambódromo é cedido gratuitamente para o evento e as escolas de samba foram contratadas pela prefeitura para realizarem pequenas apresentações pelo preço simbólico de 1 milhão reais para cada uma. O presidente da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, disse que as escolas acabam tendo um gasto de cerca de 250 mil reais com tais apresentações pela prefeitura. O resto... sobra! Parece, mas só parece, uma ajuda de custo mascarada.

Muitos poderiam argumentar que é legítimo o investimento da prefeitura no carnaval, uma vez que ele é um fomentador do turismo na cidade. É verdade, mas é como acreditar que a alegria de sediar uma Copa, vale uma reforma de 1 bilhão no Maracanã. O problema é quando encaramos a realidade.

O Ministério Público investiga a LIESA desde 1998. O Governo chegou a fazer uma licitação para trocar de mãos a responsabilidade de organizar o carnaval carioca. Não houve nenhuma empresa interessada. Uma indagação: se o carnaval envolve tanta grana, gera tanto lucro, porque nenhuma empresa quer se responsabilizar por ele.

Em 2007, na Operação Hurricane, feita pela Policia Federal contra a corrupção no poder Judiciário do Rio de Janeiro, a relação do “carnaval organizado” e os bicheiros foi escancarada. O então presidente da LIESA, Ailton Guimarães Jorge, foi preso juntamente com o presidente de honra da Beija-Flor, Aniz Abrahão David. Na casa do sobrinho do Capitão Guimarães foi encontrada uma fortuna de 9 milhões de reais escondida em uma parede falsa.

Além da relação com o jogo do bicho; pipocaram outras acusações contra Aniz, como a de contratar um pistoleiro para ameaçar os jurados em prol de benefícios a Beija-Flor, pagamentos de propina, etc. Talvez isso ajude a explicar porque nenhuma empresa se candidatou à licitação para assumir a organização do desfile.

Este ano, a Polícia Civil e a Federal “devolveram” a LIESA um camarote que utilizavam de maneira gratuita no carnaval. A desistência do presente se dá algumas semanas após dezenas de policiais civis e federais terem sido presos durante a Operação Guilhotina. As investigações constataram, no meio de tantas outras atividades criminosas, a proteção por parte da polícia aos bicheiros.

Além de muito dinheiro, proveniente de bilheterias, camarotes, impostos (que nós pagamos e a prefeitura investe) e atividades ilegais, o “carnaval organizado” ainda conta com as negociações de direitos transmissivos, patrocínios e por aí vai.

Voltando às multas que motivaram este texto, diante de tanta grana rolando, agora me parecem insignificantes. As multas de 45 mil estavam previstas no regulamento, já a de 100 mil deve ter sido fruto de algum outro acerto, contrato, adendo, parágrafo ou o que quer que seja. A verdade é que já não sinto pena da Portela ou escola nenhuma, sinto pena de quem trabalha e chora por elas.


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