POR FRANCISCO FERNANDES CASTRO FILHO
É duro admitir: precisamos de polícia.
É duro admitir: precisamos de polícia.
Sem a força policial Salvador virou o caos. Quem viu “Ensaio sobre a cegueira” (belíssimo romance do José Saramago, filmado liricamente pelo Fernando Meirelles) e tinha dúvida sobre se a barbárie pudesse se instalar de forma tão devastadora como na ficção, nunca imaginaria acontecer 142, 153, 180 assassinatos em menos de duas semanas na cidade do Axé, 1/3 deles cometidos, segundo a imprensa, por milícias policiais. Policiais criminosos que executaram as vítimas com tiros na cabeça. É pior que qualquer guerra!!!
A escalada estatística das atrocidades – sim, porque a matança é só (só??) o mais violento dos crimes – inflama a greve, acirra a disputa e o rastilho dela se espalha por outros estados. Onde a gente vai parar?
A polícia é um braço da sociedade. É o braço a quem foi dado o direito de aplicar a violência para manter a ordem e resguardar a civilidade (e veja só a situação das Forças Especiais: eles são uma força de polícia para usar da violência para conter... a polícia). A polícia que esta aí nem é aquela que gostaríamos de ter: não é educada, nem bem treinada, é estúpida, violenta em excesso e mal aparelhada. Mas é a que temos – e esta é a dura realidade – e é ela que impede que todas as cidades se tornem a Salvador dos últimos dias.
Quanto se deve pagar a alguém para viver assim? Quanto uma pessoa imagina ganhar para ser um policial? Onde os sucessivos governos têm estado com a cabeça para supor que R$ 1.300,00 é um salário pagável para alguém que exerce a função de polícia? Esse valor pode até ser o menor dentre os salários de todos os estados, mas o maior contingente da polícia recebe mesmo uma “merreca” para sustentar a família diante do risco brutal que enfrenta para exercer uma função tão fundamental para a sociedade.
Não vai ser fácil resolver a equação desse problema: não há mágica no orçamento dos estados que permita resolver a questão rapidamente. Os grupos de pressão já estão agindo: de vereadores a senadores, de jornalistas a ativistas, de sindicalistas a reivindicadores legítimos, dos “policiais criminosos” aos “bons policiais”... O caldeirão das pressões está borbulhando. Quem terá criatividade e coragem de encaminhar uma solução efetiva? Como vamos tratar dessa questão no próximo ano? Daqui há três ou cinco anos? Na próxima geração?
Estas, dentre outras perguntas, são dirigidas a quem precisa de polícia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário